Certamente você conhece uma das empresas mais famosas no segmento de esportes, a Nike. Mas talvez você não saiba que seu fundador, Phil Knight, antes de criar a gigante, atuava como contador na PwC. Knight não estava satisfeito com sua carreira e optou por seguir sua paixão pelo esporte e empreendedorismo. Fundou então a Blue Ribbon Sports ao lado de Bill Bowerman, seu antigo treinador de atletismo na universidade. Sua decisão de abandonar uma carreira convencional e seguir seu desejo de empreender no mundo do esporte foi fundamental para o sucesso da Nike. Como Phil Knight, tantos outros (famosos e anônimos) alcançaram o sucesso ao transitarem de carreira.
Se você pensa em transitar de carreira, apresento 3 perguntas provocativas e 5 passos práticos que poderão te auxiliar nesta nova empreitada.
DESEJA TRANSITAR DE CARREIRA OU DE EMPRESA?
É imperativo avaliar se realmente você está insatisfeito com sua carreira ou com a empresa onde trabalha. É muito comum nos frustrarmos por não nos adequarmos à cultura da organização, das lideranças ou mesmo na relação interpessoal com os colegas de trabalho. As organizações são organismos vivos, e como tal, expulsam qualquer corpo estranho que tente coexistir no mesmo ecossistema. As vezes não servimos para a empresa, as vezes é a empresa que não serve para nós. O importante é ser honesto consigo e refletir se seu interesse é transitar de carreira ou de empresa.

VOCÊ TEM UM EMPREGO OU UM TRABALHO?
Apesar de usarmos ambos os termos para definirmos “um ofício”, o emprego é o local onde recebemos uma remuneração pelas atividades prestadas. Já o trabalho está relacionado àquela atividade que ultrapassa questões financeiras, sendo muito mais relacionado a um estado de satisfação, pertencimento e sentimento de utilidade. Dito isto, concluímos que algumas pessoas têm emprego, mas não tem um trabalho; outras têm trabalho e não um emprego; e algumas pessoas de sorte encontram em seu trabalho, um emprego, ou seja, vice-versa.
COM DESCOBRIR O TRABALHO IDEAL?
Em 2015 iniciei uma pesquisa para estudar um padrão comportamental em pessoas de sucesso e, além das questões relacionadas às finanças, constatei uma similaridade relevante na forma como pessoas de sucesso lidam com suas carreiras. Todo aquele conteúdo me energizou, não apenas no lançamento de meu livro (PROFETA, R. Teoria da Riqueza: Um convite à reflexão. São Paulo: Phorte, 2015) mas também, na aplicação prática da minha própria transição de carreira.
A seguir apresento os 5 passos que foram fundamentais em meu processo de transição e que, espero poder ser útil para você, caro leitor.

1) DESCUBRA SEU TIPO DE INTELIGENCIA
Durante minha pesquisa, notei que alguns entrevistados tinham facilidade em determinadas áreas e um deles me sugeriu a leitura do livro “Inteligências Múltiplas” (GARDNER, H. Frames of Mind: The Theory of Multiple Intelligences. Basic Books, 1983). O livro desmistificou minha ideia de que apenas pessoas com alto QI (Inteligência Intelectual) e/ou QE (Inteligência Emocional) eram bem-sucedidas: Inteligência lógico matemática, linguística, interpessoal e intrapessoal, corporal, espacial e musical faziam parte do pacote apresentado por Gardner. Depois foram incluídas mais duas inteligências, a naturalista e a existencial.
O que mais me agradava nesta teoria era o fato de não estereotiparmos as pessoas. Atletas e dançarinos com inteligência corporal, psicólogo e filósofos com inteligência interpessoal e intrapessoal, engenheiros e arquitetos com inteligência intelectual e assim por diante, aquilo tudo era brilhante.

2) MAPEIE SEUS TALENTOS E HABILIDADES
O talento é uma aptidão inata. É uma atividade realizada com facilidade e/ou excelência. Parece um presente divino, algo em nosso DNA. O talento pode se manifestar em áreas como música, esportes, artes, matemática, arquitetura etc. É muito comum que o talento esteja diretamente relacionado ao tipo de inteligência de Gardner mencionado anteriormente.
Já a habilidade refere-se à capacidade adquirida ou desenvolvida por meio de prática, treinamento e experiência para executar uma determinada tarefa ou atividade de forma eficaz. Ao contrário do talento, as habilidades são adquiridas ao longo do tempo e podem ser aprimoradas com esforço e dedicação. As habilidades são bem descritas na teoria das 10 mil horas no livro de Ericsson (ERICSSON, A. Direto ao Ponto: Os Segredos da Nova Ciência da Expertise. Loja Kindle: Gutenberg, 2017).

3) AVALIE O NÍVEL DA SUA GARRA
A garra também é conhecida como força de vontade na busca pelos objetivos. É uma qualidade que nos impulsiona a continuar tentando. Pessoas que combinam resiliência, motivação, coragem, mesmo diante de adversidades ou críticas. Em seu livro Garra, (DUCKWORTH, A. Garra: O Poder da Paixão e da Perseverança. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016), Angela estuda o componente da garra nas pessoas bem-sucedidas e inclusive relembra que seu pai dizia que ela não tinha qualquer tipo de talento. Apesar de cruel, a escritora assume, com bom humor, sua “falta de talento”, mas seu excesso de garra, condição que a levaria para uma posição de destaque internacional. Também encontramos o conceito de garra no livro “Sobre o sentido da Vida”, (FRANKL, Viktor E. Sobre o Sentido da Vida. São Paulo: Vozes Nobilis, Petrópolis, 2022).
Afinal, o que move determinadas pessoas para objetivos improváveis? Por que algumas pessoas desistem facilmente enquanto outras não? Será que a garra está diretamente relacionada com nossa paixão, nosso propósito?
Em uma entrevista[1] com Bill Gates, veja o comentário de Steve Jobs sobre Trabalho vs. Paixão:
As pessoas dizem que você tem que ter muita paixão pelo que está fazendo, e é totalmente verdade. A razão é porque [empreender] é tão difícil que, sem paixão, qualquer pessoa racional desistiria. É muito difícil, e você tem que fazer isso por um longo período. Então se você não está se divertindo ou realmente não gosta… você vai desistir.
Quantas pessoas com talentos e habilidades não param no meio do caminho pela falta de garra (ou paixão)?

4) SEU TRABALHO NÃO PODE CORROMPER SEUS VALORES
O que faz uma pessoa desistir de uma vaga de emprego no Canadá, com um salário 2,5 vezes maior que no Brasil, alegando não ser fluente no idioma inglês, mesmo que entrevistado e aprovado pelo empregador (em inglês)? Essa é uma história real de um mentorado. Aplicamos um teste de escala de valores e constatamos ao longo da mentoria que seu principal valor era o “familiar” e não por coincidência, ele era filho único, sem parentes, exceto os pais idosos que ele fazia questão de cuidar. Haja vista a impossibilidade de seus pais se mudarem para o Canadá, seu cérebro criou uma ferramenta de defesa para que ele evitasse culpar a si ou aos pais. Foi muito duro ele ter acessado essa verdade, mas certamente libertador.
E quanto a pessoa que tem como principal valor a “segurança financeira”, preza pelo salário no quinto dia útil do mês subsequente, conta com suas férias, 13º salário, FGTS e de repente, é demitida? Resolve utilizar seu pacote rescisório para iniciar um empreendimento e, com um ou dois meses de injeção de capital em seu novo negócio, se sente insegura, desiste e retorna ao mundo celetista, inclusive com redução salarial por receio de esgotar suas economias? Talvez corromper este valor, seja uma das razões pelas quais novas empresas são encerradas antes mesmo de completarem um ano de vida.
Quando descobrimos nossos valores pessoais, ampliamos nosso campo de visão e aprendemos o significado da frase “Não julgue os outros com sua própria régua”. Pense bem: Carreira, Família, Saúde, Fé, Ética, Poder, Segurança Financeira, Diversão. Quais seus principais valores? Seu trabalho não pode corromper sua hierarquia de valores.

5) CONHECE-TE A TI MESMO
• Além de sua autoavaliação frequente, realize testes de aptidão e personalidade, como o MBTI (Indicador de Tipo de Myers-Briggs), teste de Holland (RIASEC), o teste VIA Character Strengths ou DISC de William M. Marston.
• Não deixe de procurar por mentores e conselheiros, se possível com experiência comprovada e que realmente tenham atuado e experimentado na prática, a transição de carreira.
• Converse com pessoas que trabalham em áreas que possam ser de seu interesse e entenda quais as suas forçar, fraquezas, oportunidades e ameaças.
• Não pare de estudar. Continue aprendendo e explorando novos temas para fortalecer suas decisões.
• Peça feedback para seus familiares e amigos sobre a área que acreditam que você se destaca. É como uma pessoa que assiste a uma partida de xadrez e consegue encontrar boas jogadas. Uma segunda perspectiva é sempre importante.
Desejo sucesso em sua busca! 🙂

Robson Profeta é Consultor Estratégico, membro da Associação Mensa Brasil, Executivo C-Level interino, Membro de Conselho de Administração, Mentor, Escritor e Palestrante.